terça-feira, 1 de junho de 2010

A descolagem chinesa


Na China, o Estado transformou determinadas cidades em “Zonas Económicas Especiais”, livres das habituais tarifas fiscais. O investimento estrangeiro era tão compensador que rapidamente as marcas ocidentais foram aí implantadas e as empresas locais desenvolveram-se. A descolagem económica assentou, também, na força da mão-de-obra:


  • Apercebendo-se do desenvolvimento económico do litoral, uma vaga de camponeses pobres migrou paras as cidades industriais em busca de emprego

  • A indústria de produtos de consumo desenvolveu-se com base no trabalho operário muito intensivo, mal pago e sem regalias sociais

O dinamismo económico asiático

O progresso económico asiático desenrolou-se em quatro etapas:
  • Milagre japonês (décadas de 50-60): o Japão ocupou o lugar pioneiro na descolagem económica, tornando-se exemplo, na Ásia, de que era possível um desenvolvimento acelerado apesar da insuficiência de recursos e da destruição causada pela 2GM
  • “Quatro dragões” (anos de 60-70): a Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e Hong-Kong constituem os “quatro dragões” ou NPI (novos países industrializados); o seu sucesso económico assemelha-se ao do Japão: a escassez de recursos naturais foi compensada com o esforço de uma mão-de-obra barata e abundante apoio do Estado. Estes países destacaram-se na produção automóvel, nas novas tecnologias, na construção naval
  • Países da ASEAN (décadas de 70-80): Associação das Nações do Sudeste Asiático – composta pela Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas e Singapura. Surgiu em 1967, porém foi apenas nos anos 70, quando o mundo ocidental vivia a crise da instabilidade monetária e o choque petrolífero, que o Sudeste Asiático começou a servir de mercado de exportação para o Japão e os NPI; em troca, os países do Sudeste Asiático forneciam aos seus parceiros comerciais asiáticos as matérias-primas necessárias e bens de consumo de qualidade inferior
  • República Popular da China (anos de 80-90): após a morte de Mao tsé-tung (1976) a RPC passou a ser governada, até 1997, por Deng Xiaoping; apesar de manter em vigor um regime autoritário controlado pelo PC, Xiaoping instaurou uma economia de mercado nas regiões costeiras da China, da qual resultou a descolagem económica da China a partir dos anos 80.

Dificuldades de uma total união política europeia

A união económica da Europa resultou num acréscimo de riqueza para os estados-membros. Todavia, a união política tem encontrado resistências. O Tratado de Maastricht estendeu o entendimento europeu à harmonização de políticas comuns para a justiça e assuntos internos, a política externa e de segurança, a cidadania europeia; todos estes assuntos interferem com a política com as políticas nacionais, como tal, a polémica instalou-se:
  • Alguns países (Reino Unido, Dinamarca, Suécia) recusaram adoptar a moeda única
  • O projecto de uma Constituição Europeia, saído da Convenção para o Futuro da Europa (2002), acabou por não ser aprovados, devido aos resultados negativos dos referendos à população na França e na Holanda
  • Os problemas para uma harmonia política comum foram agravados com a entrada de novos países para a UE

A construçao da União Europeia


A ideia de uma Europa unida, que se iniciara com o Tratado de Roma em 1957, ganhou novo alento, extravasando do campo económico para o político e motivando a adesão de um número sempre crescente de países. No início dos anos 80 vigorava a Europa dos nove, porém, desde a concretização da união aduaneira (livre circulação de mercadorias) de 1968, o projecto europeu encontrava-se estagnado.

A partir de 1985, Jacques Delors tornou-se presidente da Comissão Europeia imprimindo, durante o seu mandato, um impulso de renovação à Comunidade Económica Europeia:


  • Em 1986, foi assinado o Acto Único Europeu para o estabelecimento de um mercado único: eliminação dos postos fronteiriços

  • Em 1992, celebrou-se o Tratado da União Europeia (Tratado de Maastricht), que fundou a União Europeia, alargando, consideravelmente, as competências da CEE: passou a abranger domínios como a política externa e a segurança comum; foi instituída a cidadania europeia; foi também lançado o objectivo da moeda única

  • Em 1999, realizou-se a união monetária: o euro entra nos mercados de capitais e cria-se o Banco Central Europeu para delinear a política monetária da EU. O euro seria capaz de competir com o dólar americano

  • Em 2002, os cidadãos dos estados-membros, à excepção do Reino Unido, substituem as moedas nacionais pelo euro

O poder economico americano

Em termos económicos, a supremacia dos EUA alicerçou-se sobre o progresso dos seguintes sectores de actividade:
  • Agricultura – representam o primeiro lugar da exportação de produtos agrícolas, a nível mundial, graças à enorme produtividade dos seus complexos agro-industriais situados no Sul do território; aí a agricultura beneficia da aliança com as indústrias a ela associadas (a produção de máquinas agrícolas, por exemplo). Os EUA ocupam a primeira posição, a nível mundial, na produção de soja e milho
  • Indústria – a produção têxtil e siderúrgica que nos anos 60 constituía um dos principais pólos dinamizadores da economia dos EUA decaiu em favor das indústrias de alta tecnologia. Algumas unidades industriais foram deslocalizadas para o México, no intuito de beneficiar de mão-de-obra barata. Os EUA são os primeiros produtores, a nível mundial, de automóveis, alumínio, têxteis sintéticos e produtos farmacêuticos
  • Comércio – os EUA colocaram como prioridade o desenvolvimento do sector comercial durante a presidência de Bill Clinton (1993 e 2001). Para rivalizar com a EU e revitalizar a economia, estimularam o comércio entre os EUA, o Canadá e o México (através da NAFTA, 1994) e realizaram uma aproximação económica à zona do Sudeste Asiático (por meio da APEC, 1989), de maneira a participar do crescimento económico asiático
  • Tecnologia – os EUA são o país que mais invente na investigação científica, a qual é frutiferamente aplicada no progresso tecnológico. A aplicação das descobertas cientificas no mercado é feita por meio dos tecnopólos – parques tecnológicos.

O sector terciário tem também um grande peso na economia americana: ocupa 75% da população activa a traduz-se por 70% do PIB.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O impacto do fim do modelo soviético no Mundo

A separação do bloco soviético significou um reajustamento do equilíbrio de forças a nível mundial.
O mundo desenvolvido concentra-se, na viragem do século XX para o século XXI, em três zonas: Estados Unidos da América, União Europeia e Ásia-Pacífico. Esta tríade representa a maior parte das exportações mundiais e o mais elevado PNB per capita. Entre estas três regiões salienta-se a dos EUA, que com a ausência do rival soviético se tornou na primeira potência a nível mundial.

A transição dos antigos países comunistas para o sistema económico capitalista

A economia socialista caracterizava-se, essencialmente, pelo seu controlo estatal: a produção era sujeita a planos quinquenais, as empresas sobreviviam à custa de subsídios e seguia-se a política de pleno emprego, ainda que a mão-de-obra fosse excedentária.
Porém, o sistema capitalista prevê a livre concorrência e a iniciativa privada, com vista à obtenção de lucro.
A queda dos regimes políticos de tipo socialista, nos anos 80 e 90, originou a transição, ao nível económico, para o capitalismo. Esta mudança rápida provocou, nos países do Leste europeu, uma desorganização económica acentuada:
  • Os preços dos bens de consumo subiram a um ritmo muito mais acelerado do que os salários, o que provocou a perda do poder de compra dos cidadãos
  • Para se tornaram lucrativas, as empresas despediram muitos assalariados
  • Várias empresas estatais forma compradas por agentes económicos privados através de processos corruptos
  • As moedas nacionais (por exemplo, o rublo) desvalorizaram

Em consequência, o PNB decaiu vertiginosamente nos países do Leste durante os anos 90. Os produtos da sociedade de consumo, que estavam antes afastados destes cidadãos pelo regime comunista, entraram massivamente nos países do Leste, porém, não foram adquiridos pela maioria da população, visto que a riqueza se concentrou numa pequena percentagem da população; esses produtos ainda contribuíram para agravar o défice comercial.

A este retrocesso económico apenas constituíram excepções a República Checa, a Hungria, a Polónia e a ex-RDA. Estes países registaram uma evolução económica positiva devido a uma conjuntura política favorável e ao investimento externo.

domingo, 23 de maio de 2010

O novo mapa político do Leste europeu

O fim do bloco do Leste alterou o mapa político da Europa:
  • Em 1991, o território da URSS deu lugar à CEI (Comunidade de Estados Independentes), composta por onze estados: Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Moldávia, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão, Ucrânia e Usbequistão, aos quais se juntou a Geórgia em 1993. Os Estados Bálticos (Estónia, Letónia, Lituânia), que foram os primeiros a tornar-se independentes (1988, 1990) não integraram a CEI. A criação da CEI conduziu à demissão de Gorbatchev do cargo de presidente da URSS, após ter visto fracassar o seu projecto de criar a URS (União das Repúblicas Soberanas)
  • A reunificação alemã foi negociada, em 1990, através de um tratado elaborado entre as partes com direitos de soberania sobre o território – a RDA, a RFA, a Inglaterra, os Estados Unidos, a França e a URSS
  • A Checoslováquia deu origem a duas repúblicas: a República Checa e a Eslováquia
  • A transformação da Jugoslávia na República Federal da Jugoslávia deu origem à independência da Eslovénia, da Croácia, da Bósnia-Herzegovina e da Macedónia nos anos de 1991-92

terça-feira, 11 de maio de 2010

O fim do modelo soviético - a perestroika


Nos anos 80 do século XX, o sistema comunista encontrava-se obsoleto:
  • O controlo estatal conduziu a economia para um processo de estagnação

  • A administração do território sufocava sob o peso da burocracia

  • A política estava a cargo de funcionários do Partido Comunista

  • As liberdades individuais permaneciam restritas

  • O apoio financeiro fornecido aos países que se situavam do lado do bloco soviético representavam um grande encargo financeiro e militar

  • Os cidadãos tinham um nível de vida carenciado

  • A corrida aos armamentos, para além de ameaçar a segurança mundial, exigia grandes investimentos por parte da União Soviética.

Perante este quadro pessimista, a reforma partiu de dentro do próprio sistema. Gorbatchev delineou um plano abrangente: a perestroika, que serviria para ultrapassar o processo de estagnação e iniciar o progresso social e económico.

A nível económico, a perestroika incentivava a iniciativa privada e a descentralização da economia, permitindo que a livre-concorrência funcionasse como um estímulo para a produção. O objectivo era, portanto, satisfazer as necessidades do povo soviético, melhorando o seu nível de vida e as condições de trabalho, desenvolver a educação e promover os cuidados médicos. Este plano veio por em causa os planos quinquenais, que haviam caracterizado mais de 50 anos da História da Rússia.

Na vertente política, a prioridade era a transparência. Esta política de transparência abrangia, essencialmente, a luta contra a corrupção e censura, a aproximação ao Ocidente e a realização de eleições livres. Em consequência da sua aplicação em 1987, Gorbatchev e Ronald Reagan (presidente dos EUA), assinaram o Tratado de Washington para a destruição de armas atómicas. Paralelamente à aproximação estabelecida com o Ocidente, Gorbatchev apoiava a libertação dos países do Leste do controlo soviético; todavia, acreditava ainda na preservação da unidade da antiga URSS.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A descolonização portuguesa

A reivindicação das colónias portuguesas em África partiu da iniciativa de movimentos nacionalistas:
  • Guiné e Cabo Verde – Amílcar Cabral fundou o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde) em 1956. Foi assassinado pela PIDE-DGS.
  • Angola – Agostinho Neto participou na fundação do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em 1956. Tornou-se presidente da República de Angola em 1976.
  • Moçambique – Eduardo Mondlane fundou a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) em 1962. Foi assassinado em 1969, pelo que a FRELIMO continuou sob o comando de Samora Machel (primeiro presidente da República Popular de Moçambique).

Aquando a revolução de 25 de Abril, eram estes os interlocutores privilegiados para efectuar conversações sobre a efectiva descolonização. Era necessário primeiro consagrar a defesa do direito à independência que, apesar da resistência do então presidente Spínola, acabou por ser admitida na Lei 7/74 que expunha o reconhecimento por Portugal dos povos à autodeterminação e que a solução da guerra era política e não militar.

As negociações com os movimentos de libertação realizaram-se nos meses subsequentes, dos quais resultaram os seguintes acordos:

  • Acordo de Argel – (Agosto de 1974), reconhece a independência da Guiné-Bissau (Cabo Verde é reconhecido em Dezembro do mesmo ano)
  • Acordo de Lusaca – (Setembro de 1974), agenda a independência de Moçambique para 1975 (proclamada em Junho de 75)
  • Acordos de Alvor – (Janeiro de 1975), marca, com os três movimentos angolanos, a independência do território para 11 de Novembro de 1975.

Em contexto da Guerra Fria, os movimentos de libertação foram auxiliados pelos dois blocos, o que dificultou o regresso à paz.

A falta de segurança originou um movimento maciço de regresso de portugueses à metrópole – os retornados – que deram uma contribuição demográfica e profissional importante para o desenvolvimento económico português, com prejuízo equivalente para as colónias, que se viram desprovidas de quadros e técnicos qualificados.

As medidas económicas de 1975

Durante os anos de 1974 e 1975, a política económica seguiu de perto as opções ideológicas do Conselho da Revolução. Com o golpe de 11 de Março de Spínola, a viragem ideológica no sentido marxismo-leninismo foi apressada. As medidas tomadas abrangiam:
  • O intervencionismo estatal – em todos os sectores da economia, o Estado interveio e regulamentou, justificando-se este acréscimo de intervenção como política antimonopolista que permitia atender às necessidades dos trabalhadores
  • As nacionalizações – o Estado apropriou-se dos bancos, dos seguros, das empresas mais produtivas, da TAP e de outros meios de transporte
  • A reforma agrária – o país foi dividido em duas zonas distintas: o Norte mais conservador e de propriedade retalhada, e o Sul, que, em 1976 e 1977, constituía a Zona de Intervenção da Reforma Agrária (ZIRA). A reforma agrária consistia numa experiência de colectivização dos latifúndios, retirando os campos aos seus proprietários e entregando a terra aos camponeses
  • A legislação social – o pós-25 de Abril correspondeu a um alargamento das regalias sociais tendentes a uma mais justa distribuição da riqueza (através da fixação de um salário mínimo).

O clima de tensão político-social vivido no período pré-constitucional

No período entre a demissão de Spínola (Setembro de 1974) e a aprovação da Constituição da República Portuguesa (1976), Portugal viveu uma situação política revolucionária que provocou, muitas das vezes, antagonismos sociais exacerbados.
Durante este período o poder foi entregue ao MFA, – e, dentro deste, à 5ª Divisão mais extremista – ao primeiro-ministro Vasco Gonçalves, ao COPCON (Comando Operacional do Continente) – força de intervenção militar sob a chefia de Otelo Saraiva de Carvalho – e, sobretudo, ao Conselho da Revolução, ligado ao Partido Comunista Português.
11 de Março de 1975: Spínola, na tentativa de contrariar a orientação esquerdista da revolução, organizou um golpe militar (fracassado).
O Conselho da Revolução inicia, a partir de então, uma tentativa de construção de uma sociedade socialista – como exprime no Plano de Acção Política (PAP) de Junho de 1975, através do PREC (período revolucionário em curso).
A tensão político-social atinge o seu auge no Verão de 75; Vasco Gonçalves, juntamente com o MFA, decide a progressiva tomada do poder pelos organismos populares:
  • Fábricas ocupadas pelos trabalhadores
  • Latifúndios entregues aos camponeses
  • Edifícios vagos ocupados por cidadãos sem casa
  • Expulsão de professores conservadores

Estas medidas terminaram, essencialmente, por dois motivos:

1. A pressão dos grupos mais moderados, nomeadamente do PS – que se demarcou da linha dura da esquerda revolucionária, acusando o MFA de ter defraudado a esperança do país, pelo que era urgente construir uma sociedade de tolerância e paz –, o mais votado nas eleições constituintes de 25 de Abril de 75

2. O fracasso do 25 de Novembro, golpe militar levado a cabo pelos pára-quedistas de Tancos com o objectivo de apoiar Otelo Saraiva de Carvalho e a facção radical do Conselho da Revolução.

As duas forças políticas do período pré-constitucional

Após a revolução o poder ficou a cargo de uma Junta de Salvação Nacional constituída por sete oficiais de alta patente das Forças Armadas.
No programa do MFA encontravam-se as primeiras medidas a ser tomadas de forma a democratizar a sociedade portuguesa:
  • A Junta Nacional Portuguesa comprometia-se a escolher, entre os seus membros, um Presidente da República (que acabou por ser o próprio Spínola)
  • Por sua vez, o presidente nomearia um Governo Provisório Civil
  • Foi também decidido que, no prazo de um ano, seria eleita por sufrágio universal uma Assembleia Constituinte; nesse momento a Junta de Salvação Nacional cessaria as suas funções e as Forças Armadas retomariam o seu papel na defesa do país

No entanto, a transição do poder não foi assim tão simples:

  • Formaram-se duas forças políticas durante o período pré-constitucional
  • Uma, a mais moderada, era liderada por António Spínola: defendia uma solução federalista para a questão colonial e procurava controlar o movimento popular que, no seu entender, poderia originar uma nova ditadura mas de extrema-esquerda
  • Outra, a mais radical, era representada pelo MFA e pelo brigadeiro Vasco Gonçalves: defendia a independência das colónias sem contrapartidas e a orientação do regime segundo o ideário do socialismo revolucionário


Em Setembro de 1974, Spínola acaba por demitir-se após o fracasso de uma manifestação de apoio da “maioria silenciosa” – expressão usada pelo próprio para designar aqueles que não desejavam que o país enveredasse para a esquerda radical.

25 de Abril de 1974



A Revolução de 25 de Abril de 1974 consistiu numa ideia que partiu de um grupo de oficiais do exército português: o Movimento dos Capitães (Julho de 1973), liderado por Costa Gomes e Spínola.

A um nível superficial, pode-se considerar que a causa do descontentamento que originou a revolução residia na facilidade de promoção na carreira dos oficiais milicianos (que não haviam frequentado a Academia Militar). Aprofundando a questão, os militares exigiam uma solução política para a questão colonial.

Após a destituição de Spínola e Costa Gomes, em Março de 1974, o Movimento dos Capitães, que passa agora a chamar-se Movimento das Forças Armadas (MFA), delineia o golpe militar que irá por fim ao Estado Novo e instaurar uma democracia política.

  • O plano das operações ficou a cargo de Otelo Saraiva de Carvalho, que orientou a sua execução a partir do posto de Comando da Pontinha
  • O sinal era dado pelas canções-senha, via rádio
  • De seguida, o MFA ocupou, sem resistência, os principais pontos estratégicos da cidade – radiotelevisão portuguesa e aeroporto da portela
  • O capitão Salgueiro Maia (que desempenhou um papel fulcral) foi quem dialogou com as forças fiéis ao regime, que acabaram por aderir à revolta, e dirigiu o cerco do Quartel do Carmo, onde se encontrava o presidente do Conselho, Marcello Caetano
  • Marcello Caetano acabou por se render ao general Spínola que chegara ao Quartel durante a tarde
  • Ao início da noite o MFA anunciou a queda do regime pela RTP

sexta-feira, 30 de abril de 2010

A influência do impasse colonial na queda do regime

No início dos anos 70, a guerra colonial chegou a um impasse: não se vislumbrava uma possível vitória quer por parte das Forças Armadas portuguesas quer por parte das forças militares africanas. O plano de revisão do estatuto das colónias que Marcello Caetano traçara foi incorporado na revisão constitucional de 1971 e na Lei Orgânica do Ultramar português de 1972 sem alterações de fundo nem perspectivas de autonomia.
A questão colonial parecia um beco sem saída que esgotava os recursos nacionais, envolvia e risco de morte os cidadãos nacionais e favorecia o crescimento da contestação interna e externa.
A nível externo:
  • A ONU, que desde os anos 60 condenava a política colonial portuguesa, reconheceu a independência da Guiné-Bissau em 1973
  • Os EUA propuseram ao Estado português diversos planos de descolonização que nunca foram aceites
  • A visita de Marcello Caetano ao Reino Unido, em 1973, foi recebida, pela população aí residente, com manifestações de indignação contra o massacre realizado em Moçambique pelas tropas portuguesas

A nível interno:

  • Alguns grupos de católicos demarcaram-se do tradicional apoio da Igreja ao regime, criticando a ditadura e a guerra colonial. As posições públicas do bispo do Porto a respeito da campanha do general Humberto Delgado já haviam conduzido ao seu exílio; em Janeiro de 1974, os católicos manifestaram-se contra a guerra colonial na vigília de paz na Capela do Rato. Até a figura máxima da Igreja Católica – o Papa Paulo VI – recebeu no Vaticano os líderes dos movimentos independentistas africanos
  • Nos anos 60, o Exército português ainda perspectivava uma solução federalista para a questão colonial: nesse sentido se orientou o “golpe de Botelho Moniz”. Em 1961, este ministro da Defesa, com o apoio do ex-presidente da República, Craveiro Lopes, exigiu a Américo Thomaz a demissão de Salazar. Em 1962, Manuel Homem de Melo publica Portugal, o Ultramar e o Futuro em que defende uma solução federalista para as colónias – cada colónia seria um Estado federado com Assembleia Nacional, governo e tribunais próprios
  • Nos anos 70, um núcleo cada vez mais alargado das Forças Armadas defendia a impossibilidade, para os portugueses, de vencer a guerra e receava ser apontado como culpado pelos fracassos militares. Em 1974, o general António de Spínola publicou Portugal e o Futuro, obra em que explana as razões que tornavam inevitável a autonomia dos territórios ultramarinos


Perante tal vaga de contestação à guerra, tornava-se cada vez mais difícil para os portugueses seguir a tese de Marcello Caetano segundo a qual os povos da Guiné, de Angola e Moçambique não queriam a independência de Portugal, tratando-se de guerrilhas de selvagens apoiados por potências estrangeiras que esperavam vir a recolher o espólio de uma capitulação de Portugal.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Primavera Marcelista

Em 1968, Salazar foi substituído por Marcello Caetano no cargo de presidente do Conselho de Ministros. Desde esse momento até 1974, o país vivei um período de abertura política moderada – “Primavera Marcelista”.
No seu discurso de posse, Marcello Caetano dava sinais de mudança, pois, para além de frisar a preocupação imediata em assegurar a continuidade, mostrava-se disposto seguir o caminho necessário para tal.
Contudo, o regime ditatorial mantinha-se: o novo presidente do Conselho pedia a todos que fossem feitos sacrifícios, inclusive relativamente a algumas liberdades que se desejava ver restauradas. A Primavera Marcelista oscilou entre os indícios de renovação e a preocupação em seguir as linhas-mestras do salazarismo, o que resultou no fracasso da tentativa reformista:
  • A PIDE passou a chamar-se DGS (Direcção-Geral de Segurança) e reduziu, durante algum tempo, as perseguições; todavia, face ao movimento estudantil e operário, prendeu, sem hesitações, os opositores do regime; algumas figuras públicas que haviam regressado do exílio tiveram de se refugiar, novamente, no estrangeiro
  • A Censura passou a designar-se por Exame Prévio mas, apesar disso, continuava a funcionar da mesma forma
  • O partido único – União Nacional – foi chamado Acção Nacional Popular (ANP); nas eleições legislativas de 1969, a oposição política foi, mais uma vez, derrotada e a ANP conquistou 100% dos lugares de deputados. Uma vez em funções, criou-se algumas expectativas em torno da ala mais liberal da Assembleia Nacional, composta por membros independentes. Contudo, todos os projectos de lei que apresentava foram rejeitados pela facção mais conservadora e a ausência de liberdade de expressão tornava impossível a discussão da guerra colonial.

terça-feira, 27 de abril de 2010

O impacto da política colonial portuguesa no progressivo isolamento do país

A política colonial do regime salazarista conduziu ao isolamento internacional de Portugal, patente nas seguintes situações:
  • A condenação da ONU – a tese do multiculturalismo português não convenceu a ONU que, em 1960, declarou que Angola era um território não-autónomo. Em 1961, o Conselho de Segurança obriga as autoridades portuguesas a cessar imediatamente as medidas de repressão e exprime a esperança de que seja encontrada uma solução pacífica para o problema de Angola
  • A desaprovação dos EUA – em 1961, Henrique Galvão procedeu ao apresamento do navio Santa Maria, situado no mar das Caraíbas, como forma de protesto contra o regime de Salazar. Os americanos interceptaram o barco mas, em vez de entregar os revoltosos às autoridades portuguesas, conduziram-nos ao exílio, no Brasil.


Os EUA procuraram, através da oferta de auxílio financeiro – tanto a Portugal como a facções independentistas em Angola – e da proposta de planos de descolonização, manter os territórios coloniais portugueses na esfera do bloco ocidental. A recusa de todas as ofertas e planos remeteu Portugal para um isolacionismo obstinado, motivo de orgulho para Salazar.

sábado, 24 de abril de 2010

Política colonial portuguesa nas décadas de 50 e 60

Para além de se ter verificado um reforço económico nas colónias, a fim de justificar perante os países europeus o facto de Portugal dominar esses territórios, as linhas de força da política colonial portuguesa centraram-se em mais dois pontos: na fundamentação teórica do colonialismo, e na defesa da tese integracionista durante a guerra colonial.
Deste modo, a legitimização do direito à manutenção das colónias assumiu um discurso novo sobre o colonialismo. Salazar acentuava a capacidade de adaptação dos portugueses a outras culturas e, a partir de 1951, para substituir o termo colónias, passou-se a falar de "Províncias Ultramarinas", assim como, em vez de Império Português, falava-se em "Ultramar Português".
Estas alterações tinham como objectivo argumentar, perante todos os que criticassem o colonialismo português, que Portugal não tinha colónias, mas tratava-se de um território uno, que se estendia "do Minho a Timor". Todavia, estas alterações não trouxeram quaisquer alterações ao modo de vida das populações locais.
O Estado Novo defendeu, contra a tese federalista, a ideia de manter as colónias submetidas às directrizes do poder central português; esta posição política acabou por ter como consequência o envolvimento dos portugueses, durante 13 anos, numa guerra em três frentes: Angola, Guiné e Moçambique.

sábado, 17 de abril de 2010

Uma abertura no regime de Salazar?

A Segunda Guerra Mundial conseguiu acabar com o fascismo na Europa, como tal, o fim da guerra originou o desmantelamento das estruturas deste.
Todavia, em Portugal, permanecia vigente a ditadura salazarista de tipo fascista. Com o intuito de preservar o poder, Salazar encenou uma viragem política, aparentando uma maior abertura. No entanto, a liberalização política não passou de uma fachada, como se tornou evidente no desfecho de vários episódios como os a seguir mencionados:
  • Em 1945, os portugueses foram convidados a apresentar listas de candidatura às eleições legislativas. A oposição democrática - conjunto de opositores ao regime no segundo pós-guerra - concentrou-se em torno do MUD (Movimento de Unidade Democrática), criado no mesmo ano. Veio a perceber-se que, afinal, tratava-se apenas de uma manobra repressiva por parte do regime: não forma asseguradas condições que permitissem a realização de eleições isentas - facto que fez o MUD desistir - e, a apreensão das listas pela PIDE permitiu perseguir a oposição democrática
  • Em 1949, aquando das eleições presidenciais, a oposição democrática apoiou o candidato Norton de Matos, que concorria contra o candidato do regime, Óscar Carmona. De novo, perante a repressão e a perspectiva de fraude eleitoral, Norton de Matos desistiu da campanha.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Desenvolvimento económico das colónias

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, as colónias que pertenciam aos países europeus foram-se tornando independentes. Perante este quadro geral de descolonização tornou-se mais difícil, para o Estado Novo, justificar a manutenção das colónias portuguesas junto da ONU, dos países europeus, dos EUA e da pressão do Terceiro Mundo.
Assim, para Portugal assegurar o seu império, mostrou ao mundo como a sua presença era essencial para o desenvolvimento económico dos territórios em questão. Por conseguinte, durante os anos 50 e 60, as colónias foram alvo de uma atenção especial por parte do Estado através de medidas como:
  • Criação de infra-estruturas
  • Integração dos gastos com as colónias nos Planos de Fomento (a partir de 1953)
  • Incentivos ao investimento privado, nacional e estrangeiro, nas colónias
  • Criação do EEP (Espaço Económico Português) em 1961, com vista à abolição dos entraves comerciais entre Portugal e as colónias
  • Desenvolvimento dos sectores agrícola, extractivo e industrial
  • Afluxo de colonos brancos
  • Investimento de capital americano - proveniente do Plano Marshall - nos desenvolvimento das colónias.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O surto de emigração que se registou de 1945 ao início da década de 70

A emigração cresceu de forma extraordinaria nos anos 60, registando um número de saídas anuais cada vez maiores relativamente às verificadas nos anos 30, 40 ou 50; este crescimento prolongou-se de forma notória até 1970. Os principais destinos eram a França e a RFA, seguidos da Venezuela, juntamente como Canadá e os EUA.
A intensificação deste movimento migratório prende-se com motivos de ordem demográfica e económica:
  • A política industrializadora dos anos 60 remeteu para o esquecimento o mundo rural português, tal, veio originar a ideia de que sair da aldeia era uma forma de fugir à miséria
  • Os países europeus que se encontravam em fase de reconstrução do pós-Segunda Guerra Mundial necessitavam de mão-de-obra, que acabava por receber salários superiores aos de Portugal, ainda que se tratassem de trabalhos não-qualificados
  • O crescimento da população portuguesa dos anos 30 e 40 criara excedentes populacionais que a economia portuguesa não conseguia absorver
  • A partir de 1961 eram muitos os jovens e adultos que tinham a vontade de fugir à guerra colonial e, como tal, encontraram na emigração a solução para as suas vontades; no entanto, esta emigração era clandestina.

O surto emigratório foi acompanhado pelo êxodo rural dos anos 50 e 60, que teve como consequência a urbanização do litoral português, principalmente de Lisboa e Porto, cujos subúrbios se alargaram geograficamente, muitas das vezes em condições degradantes para as populações que aí passaram a habitar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A economia portuguesa entre 1945 e o início da década de 70

Durante o período do segundo pós-guerra e o inicio da década de 70, Portugal centrou a sua economia na manutenção de estruturas que dificultavam o crescimento económico.
No que diz respeito à agricultura, o principal problema residia no desequilíbrio da estrutura fundiária que tornava difícil tirar rendimento do cultivo: no Norte as explorações agrícolas continham, em média, menos de 10 hectares, enquanto que, no Sul rondavam os 50 hectares. O II Plano de Fomento realizado em 1959, que apostava na mecanização de explorações de tamanho médio, não foi concretizável por oposição aos latifundiários.
Assim, o défice agrícola foi aumentando no percorrer dos anos 60 e inícios de 70, ao mesmo tempo que a população rural fugia à miséria através da migração para as cidades do litoral ou da emigração para a Europa desenvolvida e para o continente americano.
Relativamente ao sector industrial, este não constituía a prioridade de Salazar; a escassez de produtos industriais durante a Segunda Guerra Mundial evidenciou o problema de dependência que Portugal sofria face ao estrangeiro. Seguindo a lógica dos regimes de tipo fascista em atingir a autarcia económica, o Estado Novo promulgou, em 1945, a Lei do Fomento e da Reorganização Industrial, com o intuito de substituir as importações.
Em 1948, Portugal aderiu à OECE (Organização Europeia de Cooperação Económica), beneficiando de apoio financeiro proveniente do Plano Marshall entre 1949 e 1951.
Desde 1953, começaram a ser elaborados os Planos de Fomento para o desenvolvimento industrial. O I Plano (1953-1958) e o II Plano (1959-1964) davam continuidade a ideia de autarcia e à substituição das importações; é só com o Plano Intercalar de Fomento (1965-67) e o III Plano (1968-1973), a partir de meados dos anos 60, que é delineada uma nova política económica pelo Estado Novo. Deste modo, a produção industrial passou a ser orientada para a exportação, a industrialização tem prioridade face à agricultura, estimula-se a concentração industrial e, passou a admitir-se a necessidade de rever a lei do condicionamento industrial que colocava entraves à livre-concorrência.
Devido a esta inversão na política económica portuguesa e à adesão do país a organismos internacionais, registou-se, nos anos 60, um crescimento económico assinalável.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A crise económica dos anos 70

Os «trinta gloriosos» anos de prosperidade económica que se seguiram à Segunda Guerra Mundial no mundo capitalista cessaram abruptamente em 1973. Nesse mesmo ano surgiram indícios de uma nova crise que veio afectar, essencialmente, os sectores siderúrgico, a construção naval e automóvel, bem como o têxtil. Consequentemente, muitas empresas fecharam, outras reconverteram a sua produção e o desemprego subiu em flecha.
Simultâneamente, a inflação tornou-se galopante. Este fenómeno, que se verificou contrário a todas as outras crises registadas, recebeu o nome de estagflação, visto que a forte inflação fora acompanhada por uma estagnação industrial.
São dois os principais factores que explicam a interrupção do crescimento económico nos anos 70:
  • A crise energética - o petróleo era a fonte energética da qual dependiam os países industrializados nos finais da década de 60; em 1973, os países do Médio Oriente, membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), fazem deste recursos uma arma política, aumentando, assim, o preço da venda do petróleo para o quádruplo. Com isto, os países pretendiam forçar o Ocidente a desistir da política de auxílio ao Estado judaico. O preço do petróleo foi cada vez mais aumentando; por conseguinte, foi provocado um acentuado aumento dos custos de produção dos artigos industriais e, como tal, o encarecimento dos produtos junto dos consumidores contribuindo para a inflação.
  • A instabilidade económica - devido a gastos sociais, militares, investimentos no estrangeiro, etc, os EUA puseram em circulação uma excessiva quantidade de moeda. Tal, levou o presidente Nixon a suspender, em Agosto de 1971, a convertibilidade do dólar em ouro, o que desregulou o sistema monetário internacional, despoletando a crise.

A crise económica que se registou nos anos 70, embora grave, não atingiu as mesmas proporções da crise dos anos 30: ainda que a um ritmo mais lento, o crescimento económico manteve-se e registou-se um aumento do sector terciário e o comércio internacional, apesar de ter desacelerado o seu crescimento, nunca decaiu. Também a nível social esta crise não atingiu as mesmas dimensões trágicas; as estruturas do Estado-Providência impediram que a mesma situação da Depressão dos anos 30 se verificasse novamente.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Conferência de Bangung e o Movimento dos Não-Alinhados

O período do pós-guerra revelou-se o momento ideal para os EUA e a URSS disputarem a sua influência económica sobre os países do Terceiro Mundo. Contudo, cinco estados, reunidos na Indonésia realçaram a sua intenção de não alinharem com nenhum dos blocos, visto que se recusavam a servir os interesses particulares das grandes potências. Esta reunião foi intitulada Conferência de Bandung que encorajou a afirmação política dos restantes países do Terceiro Mundo, contribuindo, deste modo, para o acréscimo do processo de descolonização que se verificou a partir daí.

Assim, em 1961 foi criado o Movimento dos Não-Alinhados por três chefes de Estado: Nasser (Egipto), Nehru (Índia) e Tito (Jugoslávia), que pretendiam, ao mesmo temo que davam continuidade ao espírito da Conferência de Bandung, mostrar a sua independência face à política dos blocos da Guerra Fria.

Este movimento conseguiu conquistar a adesão de muitos países que, apesar de neutrais relativamente às superpotências, se mostraram activos na reivindicação da liberdade política das colónias. Porém, também estes países não conseguiram escapar ao neocolonialismo.

Neocolonialismo

Um país do "Terceiro Mundo" é aquele onde a população, muito numerosa, é maioritariamente pobre, a tecnologia é atrasada, os cidadãos têm difícil acesso a bens essenciais como a água, alimentos, redes de transporte, entre outros, a taxa de mortalidade infantil é mais elevada e a esperança média de vida é mais baixa do que no mundo desenvolvido. Portanto, a expressão Terceiro Mundo designa os países menos desenvolvidos do planeta.
A segunda vaga de descolonizações, que se realizou em África, teve lugar entre 1955 e 1965 e tomou um sentido norte-sul. Assim, os países africanos alcançaram a independência através de movimentos nacionalistas e do apoio da ONU, que defendia, na Resolução 1514, que "todos os povos têm direito à livre-determinação".
Todavia, estes países do Terceiro Mundo continuam a ser controlados pelos países mais ricos, não a nível político mas económico. Por conseguinte, conseguem comprar aos países pobres as matérias-primas a preços baixos e vendendo-lhes, a preços elevados, os produtos industriais.

terça-feira, 23 de março de 2010

Formação da CEE

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial que é sentida a necessidade de superar as dificuldades europeias e, como tal, era necessário unir esforços.
Assim:
  • Em 1948 é criado entre três países um acordo que permite a livre circulação de mercadorias - anulando, portanto, as tarifas alfandegárias; estes três países foram a Bélgica, Holanda e Luxemburgo que ficaram conhecidos por Benelux
  • Em 1950, o economista Jean Monnet concebe a CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço) tendo por base a Declaração de Schuman. A CECA era constituída pela Alemanha, França, Itália e pelos três países do Benelux
  • Por fim surge, em 1957, a Comunidade Económica Europeia, constituída pelos seis países referidos anteriormente (Alemanha, França, Itália e Benelux).

Os objectivos da CEE eram essencialmente económicos: pretendiam estabelecer um mercado comum, uma aproximação progressiva das políticas económicas e uma expansão contínua e equilibrada.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O corte de relações entre a URSS e a China

Em 1949, Mao Tsé-Tung fundou a República Popular da China. O regime político aí implantado tinha características específicas, através das quais Mao ajustava a doutrina marxista-leninista à realidade chinesa (maoísmo). Assim, em vez da ditadura do proletariado, Mao enalteceu o papel dos camponeses. A novidade consistia em construir o socialismo num país agrário:
  • Em vez da indústria pesada, as medidas tomadas visavam o desenvolvimento agrícola: em 1958 foi levada a cabo uma reforma económica intitulada “o grande salto em frente”, que tinha por base o fomento da agricultura e a integração dos camponeses em comunas populares lideradas pelo PCC. Esta reforma foi um fracasso, pois os meios técnicos eram reduzidos e os métodos de trabalho utilizados nas oficinas eram antiquados
  • Em vez da submissão a Moscovo, Mao estabeleceu os fundamentos doutrinários de um socialismo nacionalista. Criticou o socialismo de Kruchtchev, acusando-o de “não escutar as massas”

Por divergências ideológicas e na condução da economia., em 1960, as ligações que existiam entre a URSS e a China romperam-se, agravando as dificuldades económicas da China.
Em 1964, o culto a Mao e ao maoísmo foi estimulado através da Revolução Cultural, movimento que pretendia aniquilar todas as manifestações culturais – na literatura, na arte, no ensino – que se afastassem do modelo socialista de Mao. A propaganda ideológica tinha por base o “livro vermelho” que reunia citações de Mao. A Revolução Cultural deu origem a excessos de agitação social que resultaram na humilhação, perseguição e assassínio de muitos cidadãos considerados contra-revolucionários.
O corte com a URSS trouxe a aproximação aos EUA, cujo presidente – Richard Nixon – visitou a China em 1971. No mesmo ano a China tornou-se membro da ONU.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Afirmação do Japão

Após a SGM, o Japão recuperou economicamente com grande sucesso de uma situação com condições muito desfavoráveis:
  • A derrota do Japão teve custos humanos e materiais muito elevados: a bomba atómica arrasou as populações das cidades de Hiroxima e Nagasáqui e o restante território, embora em menor escala, sofreu também uma grande destruição causada pela guerra; o país perdeu a soberania, ficando sob a autoridade dos EUA
  • Sendo um país pobre em recursos naturais, o Japão tinha que importar carvão, petróleo e gás para a indústria
  • A área cultivável do Japão era reduzida
  • O sistema social era altamente hierarquizado, submetido ao imperador e à nobreza

Perante este quadro, o facto de o Japão ocupar, 30 anos após a guerra, o terceiro lugar na economia mundial e conseguir ascender para o segundo lugar durante os anos 90, após o desmembramento da URSS, deve-se a vários factores:

  • A ajuda americana: enquanto ocuparam o Japão, os EUA ofereceram-lhe auxílio económico, aboliram a nobreza, fizeram aprovar a Constituição de 1945, incentivaram o controlo da natalidade e o acesso ao ensino. Esta intervenção provocou rápidas mudanças na sociedade e na economia, permitindo, aos EUA, dispor de um aliado para conter a expansão comunista na Ásia
  • A estabilidade política (assegurada pelo Partido Liberal-Democrata no poder desde 1955)
  • O investimento privado na indústria. Os sectores que registaram um maior desenvolvimento foram, numa primeira etapa (1955-1961), a indústria pesada e de bens de consumo e, numa segunda etapa (1966-1971), a siderurgia, a indústria automóvel e a produção de televisores
  • O incentivo do Estado, nos anos 60, à formação científica, que se traduziu, em curto prazo, num extraordinário avanço tecnológico
  • O papel protector das empresas relativamente aos seus funcionários, o que permitiu a melhoria da produtividade e fracos índices de contestação social, apesar dos baixos salários

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Propaganda comunista

Doutrina de Jdanov:
«As potências que actuam no teatro mundial agrupam-se em dois campos distintos: o campo imperialista e antidemocrático de um lado; o anti-imperialista e democrático de outro.
Os Estados Unidos são a principal força dirigente do campo imperialista, a Inglaterra e a França estão unidas aos Estados Unidos. [...]. O seu objectivo consiste no fortelacimento do imperialismo, na preparação de uma nova guerra imperialista, na luta contra o socialismo e a democracia, assim como no apoio a todos os regimes e movimentos reaccionários, antidemocráticos e pró-fascistas.
O outro campo é constituído pelas froças anti-imperialistas e democráticas. A sua força reside na URSS e nas novas democracias.
O campo anti-imperialista apoia-se no movimento operário e nos movimentos democráticos de todos os países, nos Partidos Comunistas irmãos, nos movimentos de libertação dos países coloniais e dependentes [...].
O fim da Segunda Guerra Mundial colocou aos povos amantes da liberdade a importante tarefa de assegurar uma paz democrática durável, consolidando a vitória sobre o fascismo. É à União Soviética e à sua política externa que pertence o papel dirigente na concretização desta tarefa primordial do pós-guerra.»
Relatório de Andrei Jdanov, à Conferência dos Partidos Comunistas Europeus, a 22 de Setembro de 1947, que apresenta a mesma estrutura da doutrina de truman: apresenta todas as vantagens de se viver num país apoiante do bloco soviético, e critica o governo do bloco capitalista. Trata-se assim, de propagação do bloco soviético, também com o intuito de apelar aos países o seu apoio.


Propaganda capitalista

Doutrina de Truman:
«No actual momento da história do mundo, quase todas as nações têm de escolher entre dois modos de vida alternativos. E essa escolha não é, normalmente, livre.
Um dos modos de vida baseia-se na vontade da maioria e distingue-se pelas suas instituições livres, por um governo representativo, por eleições livres, pelas garantias de liberdade individual, de liberdade de expressão e de religião e pela ausência de opressão política. O segundo modo de vida baseia-se na vontade da minoria imposta pela força à maioria. Assenta no terror e na opressão, numa imprensa e numa rádio controladas, em eleições viciadas e na supressão das liberdades individuais.
Penso que a política dos Estados Unidos deve ser a de apoiar os povos livres que se encontram a desenvolver acções de resistência contra as tentativas de subjugação lançadas por minorias armadas e apoiadas por pressões externas.
Penso que devemos ajudar os povos livres a moldar o seu próprio destino como entenderem.
Penso que a nossa ajuda deverá ser essencialmente de natureza económica e financeira, essencial à estabilidade económica e a uma vida política serena.
O mundo não é estático e o status quo não é sagrado. Mas não podemos permitir a sua alteração [...] por métodos coercivos [...]. Ao ajudar as nações livres e independentes a manterem a sua liberdade, os Estados Unidos estarão a concretizar os princípios da Carta da Nações Unidas.»
Este foi o discurso apresentado por Harry Truman ao Congresso, a 12 de Março de 1947, que expressa claramente as características do bloco capitalista, "comandado" pelos Estados Unidos, inferiorizando e mostrando todos os defeitos do seu rival - o bloco comunista, "comandado" pela URSS. Deste modo, este documento é considerado uma forma de propaganda do bloco capitalista, a fim de conseguir mais países apoiantes.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Dois mundos opostos

O período que seguiu a Segunda Guerra Mundial designou-se por Guerra Fria, que consistiu na governação do Mundo por dois blocos com ideologias opostas - os EUA e a URSS. Esta oposição de ideologias entre os dois blocos nunca assumiu a forma de um conflito armado directo entre as duas potências, já que nenhuma delas queria enfrentar uma terceira guerra mundial.
Apesar disto, durante este período a Guerra Fria assumiu-se sob várias formas: propaganda política junto das populações, destacando as qualidades de um modo de vida por oposição ao outro, a fim de aumentar o numero de países apoiantes; intromissão nas questões de política internacional; e ambos os blocos requisitaram para a sua segurança e para ameaça ao outro bloco bastante armamento (arsenal nuclear).
Entre 1947-1955 inicia-se a Guerra Fria. É assumido pelas duas potências a separação ideológica, os EUA através da doutrina de Truman e a URSS da doutrina de Jdanov. A NATO, pelos EUA e o Pacto de Varsóvia, pela URSS, celebram as alianças militares para enfrentar um possível ataque; estes dois pactos, ainda que cada um pertencente a cada bloco, não evidenciam grandes diferenças entre eles. Neste período, os conflitos mais marcantes foram o Bloqueio de Berlim em 1948-49, a guerra entre a Coreia do Norte (comunista) e a Coreia do Sul (capitalista) entre 1950 e 1953 e a guerra da Indochina (1954).
Os anos que se seguiram, entre 1955-1962, consistiram na fase da coexistência pacífica da Guerra. Kruchtchev, sucessor de Estaline desde a sua morte (1953), tenta durante esta etapa uma aproximação ao Ocidente, simbolizada na visita aos EUA realizada em 1959. Em 1961 construiu-se um muro que viria a dividir Berlim oeste e Berlim leste, transformando a Alemanha em dois mundos incomunicáveis. Ainda neste fase, em 1962, a questão dos mísseis apontados aos EUA esteve perto de originar um conflito armado. Depois da questão de Cuba e até 1975 foram realizados vários acordos para a redução do arsenal nuclear e a Conferência de Helsínquia, em 1975, para o entendimento na Europa. No entanto, os EUA intervêm na guerra do Vietname, onde acabam por ser derrotados.
O período entre 1975-1985 marca a corrida aos mísseis em ambos os blocos (que se intensifica nesta altura), a invasão do Afeganistão por parte da URSS (1979), para impedir que o regime comunista seja derrubado, e é iniciado pelo presidente dos EUA, Ronald Reagan, um programa de rearmamento chamado "guerra das estrelas".

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A Carta das Nações Unidas

Excerto da Carta das Nações Unidas

«NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, DECIDIDOS:
A preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço
de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade;
A reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da
pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das
nações, grandes e pequenas;
A estabelecer as condições necessárias à manutenção da justiça e do respeito das
obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional;
A promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de um conceito
mais amplo de liberdade;

E PARA TAIS FINS:
A praticar a tolerância e a viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos;
A unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais;
A garantir, pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada
não será usada, a não ser no interesse comum;
A empregar mecanismos internacionais para promover o progresso económico e social
de todos os povos;
RESOLVEMOS CONJUGAR OS NOSSOS ESFORÇOS PARA A CONSECUÇÃO DESSES
OBJECTIVOS.
Em vista disso, os nossos respectivos governos, por intermédio dos seus
representantes reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem os seus plenos
poderes, que foram achados em boa e devida forma, adoptaram a presente Carta das Nações
Unidas e estabelecem, por meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo
nome de Nações Unidas.

Capítulo I - OBJECTIVOS E PRINCÍPIOS
Artº. 1

Os objectivos das Nações Unidas são:
1. Manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas colectivas
eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os actos de agressão, ou
outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os
princípios da justiça e do direito internacional, a um ajustamento ou solução das
controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz;
2. Desenvolver relações de amizade entre as nações baseadas no respeito do princípio da
igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas
apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
3. Realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas internacionais de
carácter económico, social, cultural ou humanitário, promovendo e estimulando o
respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais para todos, sem
distinção de raça, sexo, língua ou religião;
4. Ser um centro destinado a harmonizar a acção das nações para a consecução desses
objectivos comuns.»

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O Segundo Conflito Mundial

A Primeira Guerra Mundial transformou a Europa num continente totalmente destruído e sem qualquer capacidade de prosseguir o seu desenvolvimento. Um continente que outrora fora uma potencia mundial passava agora a depender dos EUA que se revelaram a nova potencia mundial e que eram o grande financiador da reconstrução europeia. Com o desenrolar do tempo a Europa começava a recuperar dos estragos da guerra, no entanto, surge um novo obstáculo a essa recuperação - a crise americana dos anos 30. Consequentemente, a Europa volta a cair e entra novamente em crise. Toda esta situação favoreceu o aparecimento dos movimentos fascistas que sugiram aos olhos da população com promessas de melhoria relativamente à crise em que se encontravam os países europeus. As caracteristicas do fascismo levaram à contestação social; uma delas era o imperialismo, que se revelou nas várias invasões realizadas, por exemplo, pela Alemanha (país governado pelo nazismo).

Assim, a Segunda Guerra Mundial, teve início a 1 de Setembro de 1939, aquando a invasão alemã da Polónia, que gerou um descontentamento em Inglaterra e França, que declararam guerra à Alemanha. Formaram-se dois blocos: um constituído pelos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e outro pelos países Aliados (Reino Unido, França e Polónia), aos quais foram posteriormente aderindo outros países.

O Japão, país aliado da Alemanha, ataca a base americana de Pearl Harbour no dia 7 de Dezembro de 1941, o que originou a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial em 1942. Desta forma, o ano de 1942 foi caracterizado por mudar o desenrolar da guerra: no Pacífico, a ofensiva japonesa foi travada na batalha de Midway e os EUA deram início à reconquista das posições ocupadas pelos Japoneses; a Alemanha sofreu mais um passo para a sua derrota no Norte de África com a batalha de El Alamein; na frente oriental, a derrota alemã em Estalinegrado, em Janeiro de 1943, marcou o avanço soviético.

Desde o início de 1943 que os Aliados atacavam continuamente todas as frentes; em 1944 o exército soviético deu início à incursão em território alemão, e os Aliados abriram uma terceira frente europeia em França, com o desembarque na Normandia. Nos primeiros meses de 1945, conjugaram-se a grande ofensiva soviética e as ofensivas anglo-norte-americanas, que provocaram o suicídio de Hitler e a rendição da Alemanha em Maio. No Pacífico, o governo dos EUA lançou bombas atómicas sobre as cidades de Hiroxima e Nagasaki, que provocaram quase 200 000 mortos; o Japão rendeu-se em Setembro de 1945.

Assim, deu-se o fim da Segunda Guerra Mundial, da qual saíram como principais vencedores os EUA e a URSS, que se tornaram nas duas potencias mundiais que viriam governar o mundo futuramente.

domingo, 10 de janeiro de 2010